PALAVRAS PARA JOHN.
Ontem foi um dia que começou cheio de angústia. Desconhecendo o real motivo, coloquei a culpa na virose que me acometeu, nas preocupações do dia a dia, no cansaço do final de ano. 8 de dezembro. O que a lembrança desse dia me traz? Depois, fui lembrado do triste 8 de dezembro de 1980, quando, indo para a escola, com meu pai, ouvi a triste notícia: John Lennon fora assassinado, na porta do Edifício Dakota, sua residência na cidade que adotara como sua, e que o adotara: New York.
Foi um daqueles dias em que tudo parece parar por alguns instantes. Não sabemos como reagir. Para milhões de fãs, de admiradores espalhados pelo mundo, a voz mais importante de uma geração havia sido calada por um maníaco, ou pelo governo Reagan, por quem quer que estivesse por trás daquela atrocidade. Se, no início do ano de 1970, a separação dos Beatles decretava o fim do sonho, o último mês de 1980 parecia fechar um ciclo, acabando de vez com a esperança de vermos George, John, Paul e Ringo juntos novamente. Um reencontro que logo poderia acontecer, segundo entrevista de John a Elliot Minz, pouco tempo antes daquela trágica noite, pois os quatro estavam conversando sobre isso.
O mundo perdeu o convívio com um gênio. Junto com Paul McCartney, o maior compositor da história. Um cantor perfeito. Inteligente, sagaz, ativista político ferrenho na defesa daquilo em que acreditava, apaixonado, romântico, John foi, ao lado dos Beatles, a voz que cantou um sonho maravilhoso de igualdade, de paz, de liberdade, de solidariedade.
A perda de John nos colocou na orfandade. Uma orfandade antecipada pelas balas saídas da arma de um lunático. Em sua " Canção de um novo mundo", Beto Guedes pergunta por que sua estrela amiga não fez a bala parar.
No ano seguinte, Paul gravou uma composição feita para John: "Here today". Quando a ouvi, chorei. Era tocante, bela, e trazia, tanto em seus arranjos quanto na voz melodiosa de Paul, toda a tristeza da perda, a saudade, as lágrimas que não estavam sendo contidas.
Há quase três semanas atrás, ouvi e vi, de perto, Paul cantar, acompanhado de seu violão, os versos maravilhosos de "Here today". Já ouvirá e vira isso em dois shows anteriores. Das outras vezes, apenas fechei os olhos para ouvir os versos e tentar imaginar, naquela multidão, quantas pessoas não estariam sentindo uma saudade profunda dos seus, que já foram levados, afinal, estávamos ouvindo a canção composta por um amigo para outro, de um irmão, admirador, parceiro, cúmplice para o companheiro de muitas batalhas o único outro gênio musical que o igualava. No show desse ano, ao perceber a voz embargada de Paul ao cantar o verso "but you were always there With a smile", eu chorei.
Trinta e quatro anos depois, muita coisa mudou. E creio que John estaria à frente de muitas outras mudanças, como esteve na década de 1960. Sem John, a arte ficou órfã. Nós ficamos órfãos. Mas podemos sempre lembrar do seu legado. Celebrar, como fazemos no Encontro dos Anjos, queridos Helio Souza, Hélio Rodrigues Dos Anjos, Ariadne Dos Anjos, Ariane Anjos, Fátima Rodrigues Dos Anjos Melo, e agradecer.
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